É estridentemente interessante o quanto temos a capacidade de estigmatizar os outros e de doar a eles lugares que não existem. As pessoas acreditam-se superiores, acreditam-se maiores, tornam-se verdade. O outro, já não mais outro, agora somente Aquilo, tão somente a Incapacidade. Fecham-se as portas, os espaços, os corações. Fecha-se o mundo e a luz apaga. Dias depois a luz brilha dando início a um novo show, um novo espetáculo, um novo começo, e há vestígios agora de uma esperança, uma vontade desesperada...uma força desesperadora. Já as cortinas, estas que imóveis encontram-se intactas por não possuírem nenhuma novidade, nenhuma surpresa e muito menos uma lágrima, perdem o tom. O rio torna-se deserto e opaco, seco e sem cor e já não há quem diga que ali jaz sentimentos ou qualquer tipo que seja de prova humana, de vida humanificada. Mas, o que seria humanificar? Dar olhos, ouvidos, narizes e bocas a não vida? Valorizar o morto e aquilo que não possui luz? Liberdades que permitem humanificação de qualquer coisa, menos humanificar o humano que agora não passa de mísera coisa, que não passa de uma velha caixa de música antiga coberta de poeira e repleta de nostalgia misturada com um sopro gigantesco de tempo, talvez até mesmo um tufão. E já não há mais quem acredite, quem valorize, quem segure. Só um sopro, e rompe-se o fio do nada... Detecta-se o fim da picada, o fim da piada.
Um só suspiro, e mais nada.
Indianara Fernandes